Desabafo de uma médica da cidade de Porangaba
A Realidade por trás dos Bastidores da Saúde
Se você não me conhece, me chamo Amanda, criada em Porangaba desde meus 4 anos de idade, filha de um pai nascido e criado aqui.
Sou médica, com histórico de atendimento na ilha do Marajó, no Pará, e depois de 3 anos atuando no norte do Brasil, decidi voltar para o lugar que sempre considerei como minha casa.
Hoje, porém, o foco não é minha história de vida, mas sim sobre o sistema de saúde em nossa cidade.
Hoje presenciei mais um dos episódios trágicos em nosso município, dessa vez não do lado dos cidadãos curiosos e preocupados em ter informações de mais uma tragédia que atingiu a cidade, mas do lado dos profissionais da saúde.
Mas qual é a diferença?
A diferença é que, quando eu era mais nova, eu ouvia muitas críticas aos profissionais de saúde do município e as aceitava pensando que as pessoas que as diziam tinham razão, mas percebo que a realidade é outra.
Hoje eu pude sentir na pele o desespero e a esperança que assola esses(as) profissionais.
Desespero por saber que, independentemente do conhecimento, dos cursos, dos estágios que você tenha feito na vida, sem equipamentos, medicações e o mínimo necessário, nada sai do papel.
Esperança por pensar que a tentativa de ir lá poderia ajudar a salvar uma vida ou diminuir a dor de alguém, mesmo que seja apenas com uma conversa e/ou acolhimento.
Hoje decidi entrar no hospital por vontade própria, pois eu mesma já tinha sido a médica encarregada sozinha do pronto atendimento da cidade e eu não minto quando digo que rezei muito para não pegar algum caso grave, tendo em vista a falta de insumos no local.
Hoje fui em solidariedade aos acidentados, ao médico que sozinho devia dar atenção a 6 ou 7 pacientes e à equipe de enfermagem e técnica (que sempre, sempre salvam o dia).
Hoje fui lá, sem jaleco, com roupa de academia, só de máscara para tentar manter o juramento que fiz ao me formar na faculdade, porém me deparei novamente com um pronto socorro caótico, sem estrutura, onde havia apenas um kit de intubação (usamos para manter a pessoa respirando caso ela parasse).
E decidi fazer esse texto hoje, pois sei que vão chover críticas nos profissionais como já vi nas redes sociais pessoas dizendo que a enfermeira estava atendendo sem jaleco, ou que a ambulância demorou demais.
Para aqueles que não sabem, a ambulância não tem estrutura nenhuma para fazer transporte dos pacientes.
Digo tudo isso, não em tom de crítica a ninguém específico, mas em tom de crítica à cidade toda por aceitar e manter uma saúde tão precária assim!
E peço, encarecidamente, por uma tentativa de melhorar a saúde na cidade, porque os profissionais aqui são bons, e eles dão o melhor que tem, mas ninguém na saúde faz milagre, infelizmente.
Peço para se conscientizarem, pois a mesma estrada que ocorreu o acidente hoje, é o caminho de trabalho de muitos de nós, o caminho de escola para muitas crianças ou que seja o caminho de lazer para chegar a outras cidades.
Eu mesma estava na mesma estrada 10-15 minutos antes do acidente, pense, poderia ter sido eu, ou você ou qualquer um de nós.
Torcendo pela saúde da cidade e para que seus profissionais sejam valorizados pelo esforço e dedicação.
Que as famílias e amigos encontrem conforto na perda daqueles que partiram e que os pacientes que ainda estão internados possam voltar para casa.
reprodução da internet do perfil da página da profissional
https://www.facebook.com/amanda.silva.1276
Direto da redação/ Marcos Rodeio