Menino de 10 anos morre durante brincadeira no Litoral de São Paulo
Nicollas Rafael morava com a família em Cubatão e sofreu uma parada cardíaca devido a uma doença rara que a família desconhecia. Ele deu entrada no hospital pouco antes de 0h e a morte foi confirmada a 0h50.
Uma criança de 10 anos morreu após ter um mal súbito enquanto brincava com os amigos e sofrer uma parada cardíaca em Cubatão (SP). Em entrevista ao G1 neste sábado (11), a mãe da criança relatou o sofrimento da família ao perder o menino poucos dias após o aniversário dele.
Nicollas Rafael completou 10 anos no dia 17 de agosto. Ele não quis festa, já que sonhava ganhar um videogame da família. Com muito esforço e trabalho, a autônoma Bruna Rosane, de 35 anos, mãe da criança, conseguiu presentear o filho com o que ele queria, além de lhe dar um novo cachorrinho.
Nicollas, considerado uma criança feliz e animada, ficou ainda mais alegre desde então. Na noite da última terça-feira (7), ele saiu de casa para brincar com os amigos. Algumas horas depois, Bruna foi surpreendida com gritos de socorro. “Eles vieram aqui e gritaram para ajudá-lo”, relembra.
O menino passou mal enquanto brincava, chegou a pedir água para os amigos, ficou fraco e desmaiou. As crianças chamaram os responsáveis e a família o levou para o Pronto Socorro Infantil de Cubatão. Eles chegaram no local pouco antes de 0h, porém, a 0h50, a morte do menino foi confirmada.
“Foi muito rápido. Ele estava feliz, brincando, com um sorriso desde a hora que acordou. Ele era saudável e muito feliz. Meu filho estava sempre feliz. É inacreditável um ataque cardíaco em uma criança, mas aconteceu. Deus recolheu meu anjo”, diz.
A princípio, os médicos relataram à família que a morte havia sido motivada por causas naturais. No entanto, após exames, foi constatado que ele teve uma insuficiência cardíaca e um edema agudo pulmonar bilateral, que causa acúmulo de líquido no tecido pulmonar, desencadeado por uma miocardiopatia hipertrófica assimétrica, doença que dificulta o bombeamento de sangue pelo coração e, muitas vezes, não é diagnosticada.
Desolada com a morte repentina do filho, Bruna ressalta o quanto ele era feliz e como ela tem se sentido após a perda. “Não chega a ser dor, é um vazio, me sinto oca por dento, achando que a qualquer hora vou acordar e ver ele”, lamenta.
“Desejo que as mães amem as crianças, porque eu falei que o amava todo dia, a todo momento. Ele me abraçava, eu abraçava ele, a irmã também tinha um amor por ele que ninguém entende, só os dois sabiam. Não tenho palavras, o meu filho foi muito feliz e ele morreu muito feliz também, eu tenho certeza”, conta.
A vó da criança, Aparecida Célia, de 62 anos, emocionada, também relatou a dor da família e deixou um alerta às mães.
“Faço um alerta para que outras mães não passem pelo que estamos passando. A criança não reclama, a gente não consegue adivinhar. Às vezes ele sentia uma ‘dorzinha’ lá dentro e não soube explicar. Peço que todas as mães prestem atenção nas suas crianças”, alerta a vó.
“Não queremos aparecer, queremos alertar, porque é uma dor terrível. Alerto isso com amor, porque meu neto passou por aqui deixando só amor também”, continua.
A mãe esclarece, também, que o hospital realizou todos os procedimentos necessários no atendimento do filho, que não havia sofrido nenhuma pancada ou queda. Ela ainda explica que o filho não possuía problemas de saúde que fossem de conhecimento da família e que também não reclamou de dores naquele dia.
Miocardiopatia hipertrófica assimétrica
De acordo com o cardiologista Luiz Cláudio Behrmann Martins, especialista em arritmia da Santa Casa de Santos, Nicollas possuía uma miocardiopatia hipertrófica assimétrica, que causou arritmia e levou a criança a ter uma parada cardíaca.
A incidência anual da doença é de 0,3 a 0,5 casos a cada 100 mil crianças, sendo considerada uma doença rara. Segundo o cardiologista, a miocardiopatia hipertrófica é genética e pode ser identificada ainda na gestação, com o exame ecofetal. Após o nascimento, a criança inicia o tratamento, onde a medicação visa, justamente, evitar os casos de morte súbita, que representa o quadro mais temido da doença.
“A arritmia é o coração batendo em uma frequência muito alta e piora muito o quadro da criança. A medicação para a miocardiopatia vai prevenir a morte súbita. No caso da criança (Nicollas), ela teve um edema de pulmão e coração dilatado devido à arritmia, que acabou levando à morte súbita”, explica.
Conforme esclarece o especialista, crianças com essa condição podem reclamar de falta de ar e dores no peito, porém, em alguns casos, o primeiro sintoma da doença pode, como no caso de Nicollas, ser o mal súbito.