Polícia quer expulsar PM com rosto tatuado acusado de furtar orquídea de quartel e deixar posto; soldado nega e alega preconceito
Polícia Militar abriu processos disciplinares contra Paulo Coutinho, que está há 18 anos na corporação. Ao g1 ele negou as acusações e disse ser perseguido por ter a face tatuada. Soldado tem mais de 52 mil seguidores nas redes sociais onde é conhecido como ‘Demolidor’.
PM é acusado de furtar orquídea de batalhão e abandonar o posto — Foto: Reprodução/Redes sociais
O caso foi revelado nesta quinta-feira (28) pelo jornal Folha de São Paulo e confirmado nesta sexta (29) pelo g1.
O policial militar Paulo Rogério da Costa Coutinho alega que não cometeu os crimes e disse que está sendo perseguido por seus superiores hierárquicos. Em entrevista ao g1, o soldado falou que sofre pressão dentro da corporação desde que começou a se tatuar, em 2018. Ele alegou ainda que o preconceito aumentou quando decidiu tatuar o rosto, em 2021.
“Sempre fui perseguido. Um comandante da PM me chamou na sala dele e disse para eu parar de fazer tatuagem. Eu respondi que não porque estava amparado pela lei”, falou o policial.
O soldado afirmou que as acusações contra ele surgiram em 2022 e 2021. No ano passado, ele trabalhava na manutenção do quartel, desde a jardinagem até eventuais reparos. Paulo contou que retirou a orquídea para colocar em outra área.
“Estou sendo totalmente injustiçado. É uma perseguição absurda. Por causa de uma planta que tirei de lugar e nem saí do quartel. Não deu tempo de plantar a orquídea. Disseram que foi encontrado no extintor, mas não tem vídeo disso”, falou o PM, que não deu detalhes de onde a planta foi colocada depois.
De acordo com Paulo, a acusação de abandono de posto ocorreu há dois anos, quando ele fazia a segurança do sambódromo do Anhembi e teve de ir ao banheiro.
‘Demolidor’ nas redes sociais
Paulo tem mais de 52 mil seguidores na sua página pessoal no Instagram e quase 8 mil inscritos no seu canal no YouTube. Nelas, o soldado mostra a sua rotina de trabalho na PM e também o seu cotidiano, como torcedor do Corinthians, e o convívio com a família e amigos.
Procurada pelo g1, a Polícia Militar informou, em nota, que Paulo responde a processos por indisciplina, “sendo um pela conduta de abandono de posto e o outro pela prática de peculato.”
As duas infrações são consideradas transgressões disciplinares na esfera militar. A primeira é deixar o trabalho de maneira irregular. A segunda é subtrair ou desviar algo para proveito próprio.
De acordo com o comunicado da PM, em um desses casos, o soldado “está sendo processado pelo Comando de Policiamento da Capital pelo furto de uma orquídea no jardim do batalhão em fevereiro de 2022“.
“O Conselho de Disciplina destina-se a declarar a incapacidade moral da praça para permanecer no serviço ativo da Polícia Militar. Cabe ainda esclarecer que os fatos que ensejaram a instauração dos citados Conselhos também estão sendo apurados pela Justiça Militar Estadual”, informa outro trecho da nota da corporação.
Segundo a Folha de S.Paulo, o Inquérito Policial Militar (IPM) informa que câmeras de segurança gravaram o furto da orquídea, e que Paulo escondeu a planta no alojamento dos soldados e cabos. E depois levou a flor para o refeitório, onde ela foi encontrada abandonada atrás de um extintor de incêndio por outro policial.
Ao g1, o advogado Thiago Lacerda, que defende o soldado, disse que o Ministério Público Militar (MPM) chegou a pedir o arquivamento da acusação de furtar a orquídea. E que, no seu entendimento, os processos disciplinares contra Paulo são motivados por preconceito.
“Isso é uma perseguição preconceituosa, devido às tatuagens que ele tem, inclusive no rosto. Abriram um processo disciplinar para saber se o soldado tem condições morais de permanecer na PM”, disse Thiago. “Como policial e cidadão ele não tem nada que desabone, pelo contrário, ele tem várias ocorrências positivas, como partos e faz várias obras sociais e de caridades. Além de resgatar animais abandonados.”